Quando seleciono os tecidos para construir uma boneca, sempre me deparo com alguns retalhos que eu costumo chamar de “pequeninos especiais”.
São tecidos que me proporcionaram um gosto extra quando os garimpei, estampas que surpreenderam minha expectativa na confecção de uma roupa de Benditta, e que vão diminuindo seu tamanho, sem reduzir sua relevância.
Quando utilizá-los para uma roupa fica inviável, viram pequenos detalhes, apliques, etc, até sobrarem ínfimos centímetros que se abandonam no descarte.
Hoje, ao me deparar com um tesouro pequenino desses, minha memória me levou até minha infância, resgatando um registro de carinho que vale ouro. Minha mãe costumava fazer bolos de fubá deliciosos, cujo cheiro beliscava a curiosidade da vizinhança e atiçava nossa gula, frequentemente. Quando ia assá-los, porém, havia uma pequena lata de sardinhas, uma latinha oval, de bordas marteladas, que ela usava como assadeira para um bolinho especial, a ser dedicado a meu pai. A massa era a mesma do bolo grande, servido a todos nós. Mas aquele, o bolinho do meu pai, guardava sabor e aroma únicos, o que me invariavelmente testava meus limites, até tentar subtrair-lhe uma mordida.
Naquele tempo, eu me via compartilhando uma guloseima do meu pai. Hoje eu sei que era o amor, o que me encantava!