Eu poderia começar este post falando algo relacionado com o questionamento dos limites da normalidade, de quão sutil é essa fronteira. Poderia propor um debate sobre como nos sentimos ameaçados pelo que é estrangeiro, diferente, ou até mesmo cogitar o tempo necessário para que a ternura seja percebida em meio ao fantasticamente assombroso.
Mas este sábado me reservou uma surpresa que ultrapassa tudo isso.
Quando estive em São Paulo, acompanhando as Bendittas na aventura São Paulo Fashion Week, tentei sem sucesso visitar a exposição ComCiência, no CCBB. De lá pra cá, a minha admiração pelo trabalho da artista Patrícia Piccinini só fez crescer e foi com a expectativa no grau máximo que fui ao CCBB de Brasília, para então visitar essa exposição, recém inaugurada. A viagem que se faz em cada sala é um primor de realidade fantástica. E certamente, se você se propõe visitá-la, saiba que não sairá de lá sem ter o coração tocado pela ternura que aquelas criaturas fantásticas e monstruosas conseguem inspirar.
Eu já deveria ter me acostumado com os momentos de inesquecível coincidência que abençoam a minha vida, mas eles são sempre recebidos com um olhar inaugural. E assim foi, novamente. Ao final da visita, tive a sorte, a alegria, a (preencha com a sua palavra mais deliciosa) oportunidade de encontrar a artista pessoalmente. Foram os minutos mais elásticos dos meus últimos dias. Coube neles a expressão da minha admiração pelo trabalho dela, algumas perguntas, doses de tietagem… Para minha surpresa, ela se interessou por mim, perguntou sobre a minha atividade, se mostrou interessada pelas Bendittas, pediu meu contato. Antes de se despedir, ela me brindou com alguns comentários sobre o meu trabalho, prometendo se estender um pouco mais, quando conhecê-lo mais de perto. Que seja assim, Mrs. Piccinini! Que o ponto de intercessão dos nossos fazeres, a proposta de semear bons sentimentos, se amplie mais e mais, abraçando diferentes e semelhantes, mundo afora.
