Confesso que às vezes fico refém de uma certa imobilidade, tecidos e linhas sobre a mesa, a agenda de encomendas me indicando a Benditta do dia, mas falta a coragem pra conduzir a tesoura e definir por onde começar. Nesses momentos eu procuro olhar para o que está mais próximo, o que de forma mais nítida está tocando o meu coração.
Aí costuma estar também a chave da porta, o acesso para que o turbilhão criativo me enlace, o dia flua, e uma nova Benditta nasça.
Hoje isso aponta para uma conquista que não foi minha, mas a proximidade a torna um pouco minha também, por que não? Uma medalha da Corrida de Reis está me contando sobre quem saiu do sedentarismo há pouco mais de um ano e ontem conseguiu correr 10 km, numa verdadeira celebração de um novo estilo de vida, marcado pela saúde e bem-estar. Um feito e tanto, impensável para minha rotina pacata de parteira de bonecas, que ainda vacila na regularidade da atividade física na própria vida. Embora as corridas de rua estejam distantes de minhas preferências, não há como não compartilhar dessa alegria, procurando colher dali alguma lição. E, como num passe de mágica, ouço novamente o cochicho da intuição…
Revisitando a história recente da corredora querida, constato que a mudança só ocorre quando assumimos total responsabilidade pelos nossos dons, utilizando plenamente nossa capacidade e nossa atenção, em cada atitude. Essa é a chave que hoje me reconduz ao processo criativo. Retomando o impulso para me debruçar com entusiasmo sobre a tarefa que me aguarda, agradeço e bendigo as conquistas que não são minhas, mas que chegam até a mim de forma tão bonita, que nutrem a vida em mim. Não há por que temer esse fogo!