Recentemente fui desafiada a criar uma bruxa, chapéu pontudo, cuja capa teria que ser um céu estrelado. Tarefa difícil de alinhavar, eu ponderava, refém do meu imaginário povoado de parteiras, mestras no cultivo e utilização das ervas medicinais e outras artes, aquelas que arderam em fogueiras, sob a denúncia de bruxaria.
Mas eu via o amor nos olhos de quem me propôs o desafio. E, em honra disso, aventura principiou…
Muitas vezes eu tracei uma Benditta sem sequer imaginar como aquele projeto iria terminar, essa era só mais uma decolagem no escuro. Mas aquele foi um escuro inquietante, cutucador como pedra no sapato. Os descaminhos na costura foram vários, centenas de pontos desmanchados e recompostos, tecidos substituídos num exercício febril de retratar a dança da Lua em nossos processos internos. Nas linhas e entrelinhas do trabalho, eu pude ver o quanto nossos medos podem ameaçar um broto novo de intuição, a enorme quantidade de trabalho que vai direto pro lixo se nos confundimos sob o comando do ego.
Quando eu já respirava aliviada, bordando as últimas filigranas de Benditta Magia, a próxima página do cronograma de trabalho evidenciou uma deliciosa sintonia: o próximo projeto seria Benditta Atitude, uma freirinha pronta pra traduzir amor em trabalho! E assim foi feito. Afinal, dona Bruxa já havia me banhado em seu caldeirão, com inúmeras pitadas de paciência e entendimento.
Nesta curiosa sequência de Bendittas, meu coração aprendiz se nutriu fartamente com uma nova lição: a Magia talvez se perca no vento, se não for acompanhada de uma Atitude amorosa, que sirva com lealdade a um Propósito maior.
Vendo as duas sentadas assim, tão deliciosamente cúmplices, eu me pergunto quantas “Maria Zi” habitam em mim, quantas chances de servir ao Sagrado ainda esperam, pacientes, o foco da minha atenção. Que elas não se cansem de esperar pelo meu olhar desavisado. Que haja tempo suficiente para integrar todas elas, em todas nós, eu e você que me lê.