Blog

Encontrando Yemanjá, a Libertadora

Antes que o Sol exibisse seu brilho dourado no sétimo dia, mergulhei no mar,

buscando bênçãos e proteção para a caminhada de 2011.

Era um tempo de silêncios

fáceis, de gente nenhuma fazendo alarido na praia, logo ao alvorecer. A alegria de

perceber o acolhimento coloriu a reverência que brotava em meu coração e me

apresentei perante a Senhora assim, como uma criança. Procurando a chama de

Brighid dentro do meu coração, encontrei a força da Deusa nas águas, Yemanjá… e

me deixei levar. Começava ali uma lição de liberdade, mas reconheço que, caso

suspeitasse o desafio, embarcaria incólume para o meu canto, rodeada de Cerrado.

Em estreita comunhão com ondas imensas, fui instada a experimentar o desapego

dos barcos e descobri o quanto eu andava apegada a miragens de mim. Pensamentos,

idéias, emoções, sentimentos, tudo isso – eu descobria, então – era matéria e, por

isso, finitos, incapazes de conter a mim; ali estava o ego. Percebi, assombrada,

quantas vezes eu morri, quando morriam minhas miragens! Então, doeu ver algumas

dessas identificações se estilhaçarem nos rochedos beira mar, só prá que eu

percebesse, aliviada, que o Eu continuava preservado em uma instância diferente.

Do centro de mim, o Eu somente observava o ego se debater…

Despida de algumas cascas ilusórias, passei a me enamorar do esmeralda que

transparecia em águas translúcidas e sonhei minha vida toda assim, vestida dessa

nudez especialmente bela.

Depois, meditando sob a Lua cheia, a profundidade que se insinuava no oceano

banhado de luz tocou meu coração com os acordes dela e eu fui abençoada com uma

confiança inédita, que me permitiu mergulhar em minha alma sem snorkel,

respirando a confiança que Dela emanava.

De volta ao Planalto, relembro o mar nos azuis do céu daqui, trabalhando para

sempre lembrar a lição que recebi. Nos braços da Libertadora, fui compassivamente

amparada e motivada a desatar amarras, içar minhas velas e seguir vivendo, cada

vez mais, sem culpa nem apego. É Ela quem sopra os ventos que me levam. É Ela o

porto, onde quero chegar. E – singelamente descobri – é Ela o mar e o barco,

navegando em mim.

Eu, Helianthe, a Maria, falei.

0

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *