Confesso que tenho um respeito imenso pela minha rotina na Casa das Bendittas. Procuro administrar a agenda com respeito às demandas que se apresentam (embora às vezes negligencie as minhas próprias), observo horários… Mas, a despeito de tanto zelo, não é incomum que ocorram contratempos dos mais variados matizes, que interferem no fluxo da criação. Eu costumo chamá-los de “enxame dos nós”.
Os nós são extremamente carentes, já descobri; eles não admitem andar sozinhos, vêm em bandos, um enxame no zumzumzum de testes de paciência, permeando lãs e linhas, comprometendo o andamento da costura, do bordado, e embaralhando a estratégia de criar um penteado.
Quando isso acontece eu necessito, mais que tudo, de silêncio, habilidade. E paciência, muita paciência, para buscar a possibilidade da soltura, do relaxamento, para que o fio sinta o conforto da liberdade e possa seguir adiante. É sempre uma negociação silenciosa, eu e o nó, olho no olho, buscando juntos a liberdade. E quem me olha através da janela jamais poderá supor que um combate está acontecendo!
Assim, a costura e o bordado reproduzem a vida com suas batalhas. E só agora, no meio dessa prosa, eu me dou conta de que isso também acontece com os outros! Há que se ter delicadeza para chegar perto! Sejam quais forem suas atividades, o dia-a-dia de todas as pessoas está sujeito a um enxame de nós, que desafia o saber, a paciência, o equilíbrio e, quando se despede, deixa um rastro de alívio.
Esses percalços duram o tempo necessário para lapidar nossa alma e alargar o coração naquele sentido mais bonito. Os enxames de nós da nossa vida nos permitem a evolução e, por isso mesmo, devem ser alvo da nossa gratidão.
Arrematando agora este bordado, eu me proponho não esquecer da delicadeza e considerar que cada pessoa que chega até mim talvez esteja também administrando seu enxame de nós. Afinal, estamos todos no meio de uma estrada; saímos da mesma fonte, chegaremos ao mesmo fim, não importa quais fios escolhemos para tecer! Vamos de mãos dadas…